Agência OKariri / Por Lucas Santos
Para quem é natural de Milagres ou mesmo tenha visitado a cidade que fica a 486 km da capital Fortaleza, dificilmente não ouviu falar no Grupo de Congos Nossa Senhora do Rosário. Os Congos de Milagres são parte do legado africano no Cariri Cearense, esta manifestação apresenta como uma de suas características o cortejo real e festivo. O seu líder Sr. Doca Zacarias de 82 anos, mestre da cultura, nos fala um pouco do cotidiano e da história do grupo que tem mais de 100 anos de história.
“Eu herdei do meu pai essa tradição, desde os 8 anos que eu brinco, no ano de 1952 passei a liderar o grupo” afirma Sr. Doca Zacarias. Atualmente o grupo conta com 26 pessoas participando, a maioria são crianças. “apenas três não são da minha família, as pessoas que desejam entrar só precisam falar comigo, qualquer pessoa pode entrar”, nos conta o mestre da cultura popular, título que recebeu no ano de 2004, pelo Governo do Estado do Ceará, no mandato de Lúcio Alcântara.
Sobre as dificuldades enfrentadas pelo grupo Mestre Doca nos fala que, hoje elas são menores, pois há um incentivo financeiro dado por duas ONGs, a SOAF (Sociedade de Assistência à Criança) e a Casa da Cultura Dona Guiomar Gomes, que firmaram uma parceria e ajudam na compra de calçados e indumentárias para o grupo, “quando eu passei a ganhar do Governo o dinheiro, tinha que comprar as roupas e pagar as viagens para se apresentar nas comunidades, com a ajuda da SOAF e da Casa da Cultura, já não me preocupo com isso”, afirma todo sorridente, o Sr Doca Zacarias.
A professora de história Ana Nunes, coordenadora voluntária da Casa Da Cultura Dona Guiomar Gomes, nos conta que o grupo esteve em vias de extinção, e que a intenção da parceria com a SOAF foi fazer uma intervenção para que as manifestações artístico-culturais existentes no município não desaparecessem, e que a comunidade pudesse entender a importância dessas manifestações para a sociedade. O grupo de congos já era tema de pesquisadores como Oswald Barroso e Cícera Nunes, que dedicaram seu tempo em pesquisar esta manifestação, “se lá fora o grupo era conhecido, tínhamos que fazer com que ele também fosse reconhecido dentro da sua comunidade”, afirma a professora Ana Nunes.
Além de apresentações nas escolas, praças e comunidades rurais de Milagres, o grupo já se apresentou em outras cidades como, Fortaleza, Limoeiro do Norte, Juazeiro e Crato. Quando se apresentaram em Crato o então Ministro da Cultura Gilberto Gil estava presente. Além dessas apresentações esporádicas o grupo todos os anos se apresenta na Missa da Festa à Nossa Senhora do Rosário em outubro e no cortejo da bandeira de Nossa Senhora dos Milagres no mês de agosto.
Sentado em sua cadeira de balanço na calçada de sua casa, o homem simples de falar arrastado, mas que traz na lembrança toda a bagagem cultural de uma manifestação afro-brasileira se despede com um sorriso largo no rosto ao passo que mostra uma cópia de um cd com as músicas dos Congos que será lançado em breve com a ajuda da SOAF.





