“Nenhum artista suporta o real. Qualquer artista, olhando para trás, tem a sincera opinião de que o verdadeiro valor de uma coisa é uma «sombra» que pode ser fixada nas cores, na forma, no som, no pensamento”.
Nietzsche
A única certeza que temos na vida é que um dia morreremos. A vida é breve, passageira, no entanto, o golpe fatal da morte não finaliza nossa existência no coração daqueles que cultivamos os mais nobres sentimentos, e cativamos as mais singelas e sinceras amizades durante nossa passagem terrena.
Um artista não morre jamais, permanece vivo em sua obra, na poesia, nos quadros pintados em tela, no texto teatral, na arte refinada das decorações, na escultura, no minucioso olhar de diretor durante os ensaios, e na mente dos admiradores e amigos.
Assista à matéria:
Primeiro ato
Raimundo Hélio Grangeiro Ferreira estreou no palco da vida no dia 17 de Agosto de 1959. Filho de Geraldo Ferreira Cândido e Betisa Grangeiro Ferreira. Seus estudos iniciais foram na Escola Particular São Francisco, tendo como primeira professora Regina Grangeiro. Em seguida, transferiu seus estudos para o Patronato Dona Zefinha Gomes, desenvolvendo seu gosto pela arte em especial o teatro. No Patronato, produziu e dirigiu seus primeiros espetáculos teatrais, causando admiração e aplausos fervorosos do público.
Dedicado ao estudo e a leitura, Raimundo Hélio tinha como principais influências artísticas, Aleijadinho, Miguel Ângelo e Castro Alves.
Durante as férias tinha como destino o Sítio Malhada de propriedade do irmão do seu avô Raimundo Dudé, o senhor Mousinho Morais e de sua tia Socorro. Junto com os primos Neuman, Demontiê, Iuzenir, Quinha e Lúcia Morais, organizavam esquetes teatrais, e se divertiam nos banhos da fonte natural conhecida como “Guela do Pai Dudé” e no banho do “Pinga” localizado no sítio Oitis.
Após concluir o Primeiro Grau (Ensino Fundamental) no Patronato Dona Zefinha Gomes, ingressa no Colégio Diocesano do Crato, onde cursou o Segundo Grau (Ensino Médio), em seguida cursou Língua Estrangeira em Fortaleza, ao mesmo tempo em que integrava o renomado Teatro do IBEU no ano de 1976.
Depois desse período em Fortaleza, Raimundo Hélio retorna a Milagres, e pouco tempo depois ingressa no curso de Letras da antiga Faculdade Diocesana do Crato. Foi professor do Patronato, onde lecionou as disciplinas de português, inglês, educação artística e literatura.
Produziu e apresentou no auditório do Patronato as seguintes peças teatrais: A Origem Lendária de Milagres, Casa Vazia, o Pagador de Promessas, e o Auto da Compadecida.
O artista milagrense quando acadêmico de letras conheceu uma jovem colega de curso, que resultou em um relacionamento afetivo, o fruto desse relacionamento, foi seu único filho Ângelo Roncaly, atualmente, membro da Marinha Brasileira no Rio de janeiro.
Produziu, escreveu, e dirigiu por 10 anos, o “maior espetáculo de rua do interior cearense” a encenação da peça “Ecce Homo”, “Eis o Homem”, conhecida popularmente como a Paixão de Cristo. Em 1993, veio o reconhecimento do Estado do Ceará, a encenação da Paixão de Cristo foi premiada com o Troféu Carlos Câmara, organizado pelo teatrólogo Marcelo Costa, diretor do Grupo de Teatro Balaio.
Por vários anos ornamentou a Igreja Matriz de Milagres, por ocasião da Festa da Padroeira, assim como o “Carro Andor” de Nossa Senhora dos Milagres. As decorações eram admiradas não apenas pelos paroquianos, mas por todos os milagrenses.
Raimundo Hélio gostava de escrever, principalmente poesias. Suas produções literárias resultaram no livro intitulado Angelus. O lançamento da obra aconteceu numa bela noite de autógrafos no Palacim Clube.
Segundo ato
Um novo palco estava iluminado para o artista Raimundo Hélio, dessa vez a capital Fortaleza, afinal, nossa cidade não comportava mais tanta genialidade. Na capital Alencarina, continuou seus trabalhos artísticos. Não iria demorar muito para os fortalezenses se renderem a capacidade criativa do gênio milagrense. A consagração do seu trabalho foi quando realizou com enorme repercussão e sucesso, uma exposição na galeria do Shopping do Marina Park Hotel, ao todo, cerca de oitenta peças em fibra, e pó de mármore, foram expostas para um seleto publico.
Na ocasião da abertura da referida exposição, expressou dizendo: “Expor a nossa coleção no Marina Park dá início a um novo tempo da CRIART, que pretende estabelecer vínculos mais fortes com os que vivem arte e com ela conseguem humanizar o pragmatismo do mercado”.
O ato final
No palco da vida, Raimundo Hélio foi protagonista, ator principal, roteirista, iluminador e diretor. O nosso artista tinha muitos planos para o futuro, porém problemas de saúde abreviaram de forma repentina a vida do gênio milagrense. Problemas cardíacos levaram o nosso artista a se internar por duas vezes, onde foi submetido em seguida a uma cirurgia de cateterismo. Retorna para a residência dos seus pais com o objetivo de descansar e restabelecer a saúde, no entanto, no dia 7 de setembro de 1996, por volta das 14:00 horas sofreu outro infarto, sendo imediatamente socorrido por familiares, mas, o coração do nosso gênio não suportou, e Raimundo Hélio, finaliza no palco da vida sua existência física. Seu corpo foi velado na residência dos seus pais à Avenida Sete de Setembro, e no dia seguinte (08/09/1996) ocorreu o sepultamento no cemitério de Milagres. Seus restos mortais repousam no túmulo dos familiares.
No entanto, como o teatro é o mundo do faz de contas, então, Raimundo Hélio, façamos de conta que você está entre nós!
Por Hivantuyl Rodrigues para o OKariri.com
Fonte: Biografia Raimundo Hélio – “É verdade que partir para além, muito além da eternidade”.
Autor Francisco Dário Braga
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